Bōnenkai – A Celebração de Encerramento do Ano
Bōnenkai – A Celebração de Encerramento do Ano
Confraternizaçao de fim de ano. Essencial para aliviar as tensões e iniciar o próximo ciclo com otimismo e espírito renovado.
O bōnenkai (忘年会) é uma das tradições mais significativas da cultura japonesa. Celebrado em dezembro, reúne grupos que conviveram ao longo do ano — colegas de trabalho, estudantes, praticantes de artes marciais — para marcar o encerramento do ano e preparar a mente e o coração para o ano que se aproxima.
O termo é composto por três elementos:
Bō (忘) – “esquecer, deixar para trás”
Nen (年) – “ano”
Kai (会) – “reunião, encontro, festa”
A “Festa de Despedida do Ano Velho”, é uma celebração dedicada a deixar para trás tensões, mágoas e dificuldades que surgiram ao longo do ano e a renovar o espírito (kokoro) para receber o novo ano com leveza e clareza.
Celebrar o fim de um ciclo fortalece a motivação para os desafios que virão. Ao reconhecer as conquistas e deixar ir o que já cumpriu seu papel, cultivamos a saúde emocional e renovação interior.
É um momento para brindar, compartilhar histórias e celebrar a vida. Come-se e bebe-se à vontade. Os custos são divididos entre todos, reforçando o senso de igualdade e pertencimento. No Japão, é comum que o bōnenkai inclua karaokê ou apresentações musicais.
História
A origem do bōnenkai não deriva de um único evento, mas de um processo gradual de transformação das práticas de sociabilidade e dos ritos de transição anual no Japão. A ideia de “deixar o ano para trás” ganhou forma ao longo dos séculos, acompanhando transformações sociais, urbanas e profissionais.
Durante os períodos Kamakura (1185–1333) e Muromachi (1336–1573), os primeiros períodos sob governo da classe bushi, a cultura japonesa permanecia profundamente influenciada pelos costumes aristocráticos e pelas tradições monásticas. No fim do ano, samurais, aristocratas, monges e letrados realizavam encontros formais com recitação de poesia waka, conversas eruditas, rituais de purificação e oferendas. Eram encontros solenes e contemplativos, desprovidos de festividade. Embora ainda não recebessem o nome de bōnenkai, eram práticas de renovação interior e encerramento simbólico do ciclo anual.
O termo bōnen (“esquecer o ano”) surge no final do período Muromachi e ganha registros mais claros no período Azuchi-Momoyama (1568–1603). Nesse momento, o significado era essencialmente moral e literário: um convite a não se apegar às preocupações do ano que termina, ainda distante da conotação social e festiva atual.
A forma moderna do bōnenkai começa a se consolidar no período Edo (1603–1868). Com a urbanização, o fortalecimento das guildas e a ascensão da classe mercantil, encontros informais entre comerciantes e artesãos se tornaram comuns. Eles reuniam-se para fortalecer vínculos profissionais, beber saquê e aliviar tensões do ano. É nesse contexto que o termo passa a significar: “reunião para esquecer o ano”. A celebração torna-se leve, social e festiva — em contraste com os ritos solenes da elite.
A modernização no período Meiji (1868–1912), causou migração interna, levando muitos estudantes e trabalhadores a viver longe de suas famílias. Naturalmente, passaram a buscar novas formas de convivência e apoio mútuo, reunindo-se festivamente ao final do ano. Nesse contexto, o bōnenkai se expandiu rapidamente por diferentes classes sociais. As reuniões passaram a incluir música, comidas e um clima mais descontraído, tornando-se uma prática nacional.
Ao longo do século XX, com a industrialização e o crescimento das empresas modernas, o bōnenkai tornou-se um evento anual em companhias, escolas, sindicatos, associações e dojos. Consolidou-se como a confraternização japonesa de fim de ano: um momento para aliviar tensões, fortalecer laços e simbolizar o encerramento do ciclo anual.
O bōnenkai contemporâneo é a síntese de séculos de transformações sociais: de rituais aristocráticos contemplativos → aos encontros festivos dos mercadores → à celebração popular que caracteriza o Japão moderno.
O Bōnenkai do Zen Dojo
Para o Zen Dojo, o bōnenkai é mais do que uma confraternização: é um rito de passagem, o encerramento de um ciclo de treino, um momento para agradecer e reconhecer conquistas individuais e coletivas, aceitar os desafios que ficaram pelo caminho e celebrar o aprendizado que cada um deles nos ofereceu. Também é uma oportunidade de fortalecer os laços que sustentam o nosso caminho marcial.
Nosso bōnenkai segue um formato particular, celebramos do nascer ao pôr do sol:
08:00 - Conexão interior com prática de Yoga;
10:00 - Café da manhã;
11:00 - Jiu-jitsu No Gi para fluir na energia que nos une;
12:00 - Conexão com a natureza com banho no lago;
13:00 - Almoço;
14:00 - Jam sessions que costuram todas as presenças;
18:00 - Encerramento e sōji.
É um convite para celebrar a transformação. É uma pausa consciente para olhar o ano com gratidão, reconhecer o caminho percorrido e preparar-se para o que virá - com serenidade, união e espírito marcial.
No bōnenkai, cada sorriso, é um presente.
Cada kanpai, um agradecimento silencioso ao que vivemos e ao que deixamos ir.
É desapegar-se com gratidão.
A vida é feita de ciclos que se abrem e se fecham, como o abrir e fechar das mãos no kumikata. Celebramos juntos porque o Bubō não se percorre sozinho.
Ao partilharmos momentos, esforço, cansaço, riso, e alegria,
purificamos o que passou
e abrimos espaço para o que virá.
Kanpai.
Ao ano que se despede.
Ao novo que chega.
E à força silenciosa que cresce em cada um de nós.
Etiqueta e Espírito de Participação
No Japão, participar do bōnenkai é um gesto de respeito e pertencimento ao grupo. Assim como no ambiente trabalho é de boa etiqueta não se retirar antes dos superiores, no bōnenkai é considerado descortês sair antes dos mais experientes ou responsáveis pelo grupo.
Não participar sem um forte motivo é considerado falta de etiqueta, pois o bōnenkai simboliza respeito, lealdade e disposição para fortalecer a harmonia do grupo. O bōnenkai representa muito mais que uma festa: é um momento de reafirmar laços humanos, expressar gratidão e cultivar a boa convivência.
Que possamos brindar não apenas ao que passou, mas ao que somos e ao que continuaremos construindo juntos.